Autor:
Wayne Grudem
Fonte:
Teologia Sistemática, Editora Vida Nova.
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Qual é o propósito da morte na vida cristã?
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Que acontece ao corpo e à alma quando morremos?
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Quando receberemos o corpo ressurreto?
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Como ele será?
1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA
A. Morte: Por que os cristãos morrem?
Nosso
estudo da aplicação da redenção deve incluir uma consideração da morte e da
questão de como os cristãos devem ver a própria morte e a morte dos outros.
Devemos também perguntar sobre o que nos acontece entre o tempo que morremos e
o tempo em que Cristo vai retornar para nos dar corpos ressurretos.
1. A
morte não é uma punição para os cristãos.
Paulo
diz-nos claramente que “agora, já não há condenação para os que estão em Cristo
Jesus” (Rm 8.1). Todas as penalidades dos nossos pecados já foram pagas. Assim,
muito embora saibamos que os cristãos morrem, não devemos considerara morte dos
cristãos uma punição de Deus ou de alguma forma um resultado da penalidade
devida a nós por causa dos nossos pecados. É verdade que a penalidade pelo
pecado é a morte, mas essa penalidade não mais se aplica a nós — nem em termos
de morte física nem em termos de morte espiritual ou separação de Deus. Tudo
isso foi pago por Cristo. Portanto, deve haver outra razão que não a punição de
nossos pecados para a morte que os cristãos enfrentam.
[Nota
de Hélio: o parágrafo acima tem graves erros. Em primeiro lugar, o que a única
Bíblia verdadeira (em qualquer idioma, aquela mais fielmente traduzida a partir
do Textus Receptus, e que foi usada por todos crentes de todas as igrejas
batistas e reformadas de todas as nações, desde Lutero 1922 até recentemente)
diz é “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus,
que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (ACF) Há, sim,
condenação (quanto à comunhão, correção, galardão, o ser usado por Deus, etc.;
não quanto à salvação eterna) para o salvo que andar segundo a carne (Compare
At 5:1-10; 1Co 3:12,15; 5:9-10; Gl 5:16-18; 1João 3:20-21; 5:16)! Em segundo
lugar, há, sim, condenação de morte física (não de perca de salvação) para
certas condições de crentes que, aos olhos de Deus, são grosseiramente
pecaminosas e teimosamente rebeldes, ver 1Cor 5:5 “Seja entregue a Satanás para
destruição da CARNE, para que o espírito seja salvo no dia do SENHOR Jesus.”
(ACF) e 1Co 11:30 “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e
muitos que DORMEM.” (ACF)]
2. A
morte é o resultado final da vida no mundo decaído.
Em
sua grande sabedoria, Deus decidiu que não nos aplicaria os benefícios da obra
redentora de Cristo de uma só vez. Antes ele escolheu aplicar os benefícios da
salvação de modo gradual em nossa existência. Semelhantemente, ele resolveu não
remover todo o mal do mundo de imediato, mas esperar até o juízo final e o
estabelecimento do novo céu e da nova terra. Em resumo, ainda vivemos em um
mundo decaído e nossa experiência de salvação é ainda incompleta.
O
último aspecto do mundo decaído a ser removido será a morte. Paulo diz: “24
Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando
houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força. 25 Porque convém
que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. 26 Ora, o
último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.” (1Co 15:23-26 ACF) Quando
Cristo retornar, então se cumprirá a palavra que está escrita: “A morte foi
destruída pela vitória”. “Onde está, á morte, a sua vitória? Onde está, á
morte, o seu aguilhão?” (lCo 15.54,55). Mas até aquele tempo a morte vai
permanecer uma realidade mesmo na vida dos cristãos.
Embora
a morte não nos venha como penalidade pelos nossos pecados individuais (porque
isso foi pago por Cristo) [Nota de Hélio: quanto à salvação ou perdição
eternas, o salvo jamais será julgado por nenhum pecado que, infelizmente, venha
a cometer, pois Cristo os levou todos vicariamente sobre Si, ao morrer em nosso
lugar, como nosso substituto. Mas, quanto à disciplina, comunhão e usabilidade,
o salvo pode ser julgado de vários modos, até ao ponto da morte física 1Co 5:5; 11:30] , ela vem como resultado de
vivermos no mundo decaído, onde os efeitos do pecado não foram ainda removidos.
Ligados à experiência da morte estão outros resultados da queda que prejudicam
nosso corpo físico e assinalam a presença da morte no mundo — tanto os cristãos
como os não-cristãos experimentam o envelhecimento, as doenças, os prejuízos,
os desastres naturais (como as enchentes, tempestades violentas e terremotos)
[Nota de Hélio: e desastres provocados pelo homem, ainda caído (guerras,
crimes, acidentes, etc.)]. Embora Deus muitas vezes responda às orações para
libertar cristãos (e também não-cristãos) de alguns desses efeitos da queda por
certo tempo (indicando assim a natureza do seu Reino que se aproxima), os
cristãos acabam experimentando todas essas coisas em alguma medida, e, até que
Cristo retorne, todos nós ficaremos velhos e morreremos. O “último inimigo”
ainda não foi destruído. E Deus resolveu permitir que experimentássemos a morte
antes de ganharmos todos os benefícios da salvação que foi conquistada para
nós.
3.
Deus usa a experiência da morte para completar nossa santificação.
Durante
toda a nossa jornada na vida cristã, sabemos que nunca temos de pagar qualquer
penalidade pelo pecado, pois tudo foi pago por Cristo (Rm 8.1) [Nota de Hélio:
quanto à salvação ou perdição eternas, o salvo jamais será julgado por nenhum
pecado que, infelizmente, venha a cometer, pois Cristo os levou todos
vicariamente sobre Si, ao morrer em nosso lugar, como nosso substituto. Mas,
quanto à disciplina, comunhão e usabilidade, o salvo pode ser julgado de vários
modos, até ao ponto da morte física 1Co
5:5; 11:30]. Portanto, quando realmente experimentamos dor e sofrimento nesta
vida, não devemos nunca pensar que é porque Deus nos esteja punindo (para o
nosso mal) . As vezes o sofrimento é simplesmente resultado da vida o no mundo
pecaminoso e decaído e às vezes é porque Deus nos está disciplinando (para o
nosso bem), mas em todo o caso Paulo nos assegura: “Sabemos que Deus age em
todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de
acordo com o seu propósito” (Rm 8.28).
O
propósito positivo de Deus nos disciplinar está claramente afirmado em Hebreus
12 , onde lemos: “pois o Senhor disciplina a quem ama [...] Deus nos disciplina
para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina
parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde,
porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram
exercitados”(Hb 12.6,10,11). Nem toda disciplina serve para nos corrigir quando
cometemos pecados; Deus pode permiti-la para o nosso fortalecimento, a fim de
que possamos ganhar mais capacidade de confiar nele e de resistir ao pecado no
desafiador caminho da obediência. Vemos isso claramente na vida de Jesus, que,
mesmo sendo sem pecado, todavia “ aprendeu a obedecer por meio daquilo que
sofreu” (Hb 5.8). Ele foi aperfeiçoado “mediante o sofrimento” (Hb 2.10).
Portanto, devemos ver toda fadiga e sofrimento que nos acontece na vida como
algo que Deus nos traz para o nosso bem, para o fortalecimento de nossa
confiança nele, para nossa obediência a ele e, em última instância, para
aumentar nossa capacidade de glorificá-lo.
O
entendimento de que a morte não é de modo algum a punição pelo pecado [Nota de,
mas simplesmente algo que Deus nos faz passar a fim de tornar-nos mais
parecidos com Cristo, deve servir de grande encorajamento para nós. Esse
entendimento deve retirar de nós todo o temor da morte que assalta a mente dos
crentes (cf.Hb 2.15). Todavia, embora Deus venha anos fazer um bem por meio do
processo da morte, devemos ainda lembrar que a morte não é natural, não é uma
coisa boa e, no mundo criado por Deus, ela é algo que não deveria existir. Ela
é uma inimiga — algo que Cristo finalmente vai destruir (1Co 15.26).
4.
Nossa obediência a Deus é mais importante que preservar a vida.
Se
Deus usa a experiência da morte para aprofundar a confiança nele e para
fortalecer nossa obediência a ele, então é importante que nos lembremos de que
o alvo de preservar a vida neste mundo a qualquer custo não é o alvo maior para
o cristão: a obediência a Deus e a fidelidade a ele em todas as circunstâncias
são coisas muito mais importantes. Essa é a razão pela qual Paulo pôde dizer:
“Estou
pronto não apenas para ser amarrado, mas também para morrer em Jerusalém pelo
nome do Senhor Jesus” (At 21.13; cf. 25.11). Ele disse aos presbíteros de
Éfeso: “Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para
mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que
o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus” (At
20.24). Quando Paulo estava em prisão, não sabendo se morreria ali ou se sairia
vivo, ainda pôde dizer: “Aguardo ansiosamente e espero que em nada serei
envergonhado. Ao contrário, com toda a determinação de sempre, também agora
Cristo serei engrandecido em meu corpo, quer pela vida, quer pela morte” (Fp
1.20).
A
persuasão de que podemos honrar ao Senhor mesmo na morte e de que a fidelidade
a ele é muito mais importante que preservar nossa vida deu coragem e motivação
aos mártires no decorrer de toda a história da igreja. Quando confrontados com
a escolha entre preservar a própria vida e pecar ou abrir mão da própria vida e
ser fiel, escolhiam abrir mão da própria vida: “diante da morte, não amaram a
própria vida” (Ap 12.11). Mesmo em tempos em que há pouca perseguição e pouca
coisa semelhante ao martírio, seria bom fixarmos essa verdade em nossa mente de
uma vez por todas, pois, se desejarmos abrir mão até mesmo de nossa vida por
fidelidade a Deus, veremos que é muito mais fácil abrir mão de qualquer outra
coisa por causa de Cristo.
B. O que devemos pensar sobre nossa morte
e a morte dos outros?
1.
Nossa própria morte.
O
NT nos encoraja a ver a própria morte não com temor, mas com alegria pela
perspectiva de partir e estar com Cristo. Paulo diz: “Temos, pois, confiança e
preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8). Quando
está na prisão, não sabendo se seria executado ou se seria solto, ele pode
dizer: “porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue
vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher!
Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é
muito melhor” (Fp 1.21-23).
Também
lemos as palavras de João no Apocalipse: “Então ouvi uma voz dos céus dizendo:
‘Escreva: Felizes os mortos que morrem no Senhor de agora em diante'. Diz o
Espírito: ‘Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os
seguirão” (Ap 14.13).
Os
crentes, portanto, não precisam ter medo de morrer, porque a Escritura nos
assegura de que nem mesmo a morte “será capaz de nos separar do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39; cf. Sl 23.4). De fato, Jesus
morreu para libertar “aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados
pelo medo da morte” (Hb 2.15). Esse versículo nos lembra de que, quando falamos
de maneira clara sobre nossa ausência de temor da morte, isso proporciona um
forte testemunho para pessoas idosas que tentam evitar falar sobre a morte e
que não possuem nenhuma resposta para ela.
2. A
morte de parentes e amigos cristãos.
Embora aguardemos o tempo de nossa própria
morte com a expectativa alegre de estar na presença de Cristo, nossa atitude
será um tanto diferente quando experimentarmos a morte de amigos crentes e
parentes. Nesses casos, experimentaremos a tristeza genuína — mas mesclada com
alegria porque eles foram estar com o Senhor.
Não
é errado expressar a tristeza real pela perda da comunhão com os nossos amados
que morrem e também tristeza pelo sofrimento e angústia que eles possam ter
experimentado antes de morrer. Às vezes os cristãos pensam que mostram falta de
fé se lamentam profundamente por um irmão na fé que morreu. Mas a Escritura não
dá apoio a essa idéia, porque, quando Estêvão foi apedrejado, lemos : “Alguns
homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram por ele grande lamentação” (At
8.2). Certamente não houve nenhuma falta de fé por parte de ninguém pelo fato
de Estêvão estar no céu experimentando grande alegria na presença do Senhor.
Todavia, a tristeza daqueles homens piedosos mostrou o genuíno pesar que
sentiram com a perda da comunhão de quem amavam, e não foi errado expressá-la —
foi correto! Mesmo Jesus, diante da tumba de Lázaro, “chorou” (Jo 11.35),
experimentando tristeza pelo fato de Lázaro ter morrido e por suas irmãs e
outras pessoas estarem experimentando tristeza, bem como também, sem dúvida, pelo
fato de que havia morte no mundo, pois, em última instância, a morte é
antinatural e não deveria estar no mundo criado por Deus.
Não
obstante, a tristeza que sentimos pela morte de nossos queridos está claramente
misturada com esperança e alegria. Paulo não diz aos tessalonicenses que eles
não deveriam de forma alguma sentir aflição por causa dos seus amados que
haviam morrido, mas ele escreve: “Irmãos, não queremos que vocês sejam
ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros
que não têm esperança” (lTs 4.13). Eles não deviam se entristecer do mesmo
modo, com o mesmo desespero amargo, como acontece com os descrentes. Mas
certamente eles se entristeceriam. Ele lhes assegura que Cristo “morreu por nós
para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele” (lTs
5.10) e, desse modo, ele os encoraja dizendo que os que morrem vão estar com o
Senhor. Essa é a razão por que a Escritura pode dizer: “Felizes os mortos que
morrem no Senhor [...] eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os
seguirão” (Ap 14.13). De fato, a Escritura mesmo nos diz: “O SENHOR vê com
pesar a morte de seus fiéis” (S1 116.15).
Portanto,
embora tenhamos genuína tristeza quando amigos e parentes cristãos morrem,
podemos dizer com a Escritura: “‘Onde está, á morte, a sua vitória? Onde está,
ó morte, o seu aguilhão?' [...] Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por
meio de nosso Senhor Jesus Cristo (lCo 15.55,57). Ainda que choremos, nosso
choro deve ser misturado com adoração a Deus e ações de graças pela vida dos
queridos que morreram.
3. A
morte dos descrentes.
Quando
os descrentes morrem, a dor que sentimos não está misturada com a alegria da
segurança de que eles foram estar com o Senhor para sempre. Essa dor,
especialmente em relação àqueles com quem estivemos bastante ligados, é muito
profunda e real. Paulo, ao pensar a respeito de alguns de seus irmãos judeus
que haviam rejeitado Cristo, disse: “Digo a verdade em Cristo, não minto; minha
consciência o confirma no Espírito Santo: tenho grande tristeza e constante
angústia em meu coração. Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de
Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça” (Rm 9.1-3).
Deve
ser dito ainda que muitas vezes não temos certeza absoluta de que uma pessoa
persistiu ate a morte em sua rejeição a Cristo. O conhecimento da morte
iminente que uma pessoa tem vai com freqüência produzir uma sondagem genuína do
coração por parte da pessoa que está à morte, e às vezes as palavras da
Escritura ou palavras de testemunho cristão que foram ouvidas muito tempo atrás
serão lembradas, podendo levar ao arrependimento e fé genuínos. Certamente não
temos qualquer certeza de que isso aconteceu a menos que haja uma evidência
explícita disso, mas também é salutar perceber que em muitos casos temos um
conhecimento provável, mas não absoluto de que aqueles a quem conhecemos como
descrentes persistiram em sua incredulidade até a morte. Em alguns casos
simplesmente não sabemos.
Não
obstante, após a morte de um não-cristão certamente seria errado fornecer
qualquer indicação a outros de que pensamos que tal pessoa foi para o céu. Isso
seria simplesmente fornecer uma informação errônea e uma segurança falsa e
diminuiria a urgência da necessidade dos que ainda estão vivos de confiar em Cristo.
É muito melhor, em tais ocasiões, à medida que Deus proporciona oportunidade,
gastar tempo para refletir sobre nossa vida e nosso destino e ainda partilhar o
evangelho com outras. De fato, as ocasiões em que somos capazes de falar como
amigos aos amados de um descrente que morreu são muitas vezes as oportunidades
que o Senhor abre para falarmos a respeito do evangelho com os que ainda estão
vivos.
C. O que acontece quando as pessoas
morrem?
1. A
alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus.
A morte é a cessação temporária da vida
corporal e a separação entre a alma e o corpo. Uma vez que o
crente morre, embora o seu corpo físico permaneça na terra sepultado, no
momento da morte sua alma (ou espírito) vai imediatamente para a presença de
Deus com regozijo. Quando Paulo reflete sobre a morte, ele diz: “Temos, pois,
confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co
5.8). Estar ausente do corpo é estar em casa com o Senhor. Ele também diz que o
seu desejo é “partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23). Jesus
disse ao ladrão que estava à sua direita: “Hoje você estará comigo no paraíso”
(Lc 23.43). O autor de Hebreus diz que, quando os cristãos comparecem para
adorar juntos, eles vêm não somente à presença de Deus no céu, mas também à
presença dos “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23). Contudo, como veremos em mais
detalhes a seguir, Deus não vai deixar o corpo para sempre na sepultura, pois,
quando Cristo retornar, a alma dos crentes será reunida ao corpo, o corpo será
ressuscitado dentre os mortos e os crentes viverão com Cristo eternamente.
a. A
Bíblia não ensina a doutrina do purgatório.
O
fato de que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus
significa que não há nada semelhante a purgatório.
No
ensino da Igreja Católica Romana, o purgatório é o lugar para onde a alma dos
crentes vai a fim de ser purificada do pecado, até que esteja pronta para ser
admitida no céu. De acordo com esse pensamento os sofrimentos do purgatório são
dados por Deus em substituição à punição dos pecados que os crentes deveriam
ter recebido nesta vida, mas não receberam.
Mas essa doutrina não é ensinada na
Escritura, e é de fato contrária aos versículos citados
anteriormente. Antes de
tudo, deve ser dito que essa literatura não é igual à Escritura em autoridade e
não deve ser tomada como fonte de doutrina cheia de autoridade. Além
disso, os textos dos quais essa doutrina é derivada contradizem afirmações
claras do NT e, assim, se opõem ao ensino da Escritura. Por exemplo, o texto
primário usado nesse sentido, 2Macabeus 12.42-45, contradiz as afirmações claras da Escritura citadas
anteriormente a respeito de partir para estar com Cristo. O texto diz o
seguinte: [Depois, tendo organizado uma coleta individual, Judas Macabeus, o
líder das forças judaicas] enviou a Jerusalém cerca de duas mil dracmas de
prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim
absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição. De fato, se
ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria
supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma belíssima
recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e
piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício
expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu
pecado.
Aqui fica claro que tanto a oração
pelos mortos como fazer uma oferta a Deus para libertar os mortos de seus
pecados são práticas aprovadas. Mas isso contradiz o ensino explícito do NT de
que somente Cristo fez expiação por nós. Essa passagem em 2Macabeus
é difícil de enquadrar mesmo com o ensino católico romano, porque ele ensina
que orações e sacrifícios deviam ser oferecidos pelos soldados que haviam
morrido no pecado mortal da idolatria (que não pode ser perdoado, segundo o
ensino de Roma) para possibilitar que eles viessem a ser libertos de seu
sofrimento.
Outras
passagens às vezes usadas para dar suporte à doutrina do purgatório são Mateus
12.32 e 1 Coríntios 3.15. Em Mateus 12.32, Jesus diz: “Todo aquele que disser
uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem falar contra o
Espírito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na que há de vir”. Ludwig
Ott comenta que essa frase “deixa aberta a possibilidade de que pecados são
perdoados não somente neste mundo, mas no mundo por vir” . Contudo, isso
simplesmente é um erro de raciocínio, pois dizer que alguma coisa não
acontecerá na era por vir não implica que possa acontecer na era por vir! O que
é necessário para provar a doutrina do purgatório não é uma afirmação negativa
como essa, mas uma afirmação positiva que diga que pessoas sofrem com o
propósito de ser continuamente aperfeiçoadas até morrerem. Mas a Escritura não
diz isso em lugar algum.
Em
1 Coríntios 3.15 Paulo diz que, no diz do julgamento, a obra que uma pessoa fez
será julgada e testada pelo fogo, e então conclui: “Se o que alguém construiu
se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa
através do fogo”. Mas isso não é o mesmo que falar de uma pessoa sendo queimada
ou sofrendo punição, mas simplesmente de sua obra sendo testada pelo fogo — o
que é bom será igual ao ouro, prata e pedras preciosas, que vão durar para sempre
(v. 12). Além disso, o próprio Ott admite que esse fato ocorre não durante esta
era, mas durante o dia do “julgamento geral” , o que indica que dificilmente
esse texto pode ser usado como argumento convincente para o purgatório.
Um problema ainda mais sério com essa
doutrina é que ela ensina que devemos acrescentar alguma coisa à obra redentora
de Cristo e que a sua obra redentora por nós não foi suficiente para pagar a
penalidade de todos os nossos pecados. Mas isso é certamente
contrário ao ensino da Escritura. Além disso, em sentido pastoral, a doutrina
do purgatório rouba dos crentes o grande conforto que lhes deveria pertencer
por saber que os que morreram foram imediatamente para a presença do Senhor e
por saber que eles também, quando morrerem, partirão e estarão “com Cristo, o
que é muito melhor” (Fp 1.23).
b. A
Bíblia não ensina a doutrina do “sono da alma”.
O fato de que a alma dos crentes vai
imediatamente para a presença de Deus também significa que a doutrina do sono
da alma é incorreta. Essa doutrina ensina que, quando morrem, os crentes entram
no estado de existência inconsciente, e a próxima coisa de que terão
consciência será quando Cristo retornar e os ressuscitar para a vida eterna.
Essa doutrina nunca encontrou grande aceitação na igreja.
O
suporte para esse pensamento tem sido geralmente encontrado no fato de que a
Escritura diversas vezes fala do estado dos mortos como de um sono ou de
“adormecer” (Mt 9.24; 27.52; Jo 11.11; At 7.60; 13.36; lCo 15.6,18,20,51; lTs
4.13; 5. l0). Além disso, certas passagens parecem ensinar que os mortos não
possuem existência consciente (v. Sl 6.5; 115.17 [mas repare no v. 18!] ; Ec
9.10; Is 38.19) . Porém, quando a Escritura apresenta a morte como sono,
trata-se simplesmente de uma expressão metafórica usada para indicar que a
morte é somente temporária para os cristãos, exatamente como o sono é
temporário. Isso é claramente visto, por exemplo, quando Jesus fala com seus
discípulos a respeito da morte de Lázaro. Ele diz: “Nosso amigo Lázaro
adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo” (Jo 11.11). Então João explica:
“Jesus tinha falado de sua [de Lázaro] morte, mas os seus discípulos pensaram
que ele estava falando simplesmente do sono. Então lhes disse claramente:
‘Lázaro morreu”'(Jo 11.13,14). As outras passagens que falam a respeito de
pessoas dormindo quando morrem devem ser também interpretadas como simplesmente
uma expressão metafórica para ensinar que a morte é temporária.
Com
respeito às passagens que indicam que os mortos não louvam a Deus ou que há uma
cessação de atividade consciente quando as pessoas morrem, devem ser todas
entendidas da perspectiva da vida neste mundo. De nossa perspectiva, parece
que, uma vez que as pessoas morrem, elas não se dedicam nunca mais a essas
atividades... Mas o salmo 115 apresenta uma perspectiva plenamente bíblica
desse ponto de vista. Ele diz: “Os mortos não louvam o SENHOR, tampouco nenhum
dos que descem ao silêncio”(v. 17). Todavia, ele prossegue no próximo versículo
com um contraste, demonstrando que os que crêem em Deus bendirão o Senhor para
sempre: “ Mas nós bendiremos O SENHOR, desde agora e para sempre! Aleluia!” (v.
18).
Em
última análise, as passagens citadas demonstrando que a alma dos crentes vai
imediatamente para a presença de Deus e desfruta comunhão com ele ali (2Co 5.8;
Fp 1.23; Lc 23.43; Hb 12.23) indicam, todas elas, que há para o crente
existência consciente e comunhão com Deus imediatamente após a morte. Jesus não
disse: “Hoje você não terá mais consciência de qualquer coisa que está por
acontecer”, e sim: “Hoje você estará comigo no paraíso” (Lc 23.43). Certamente
a concepção de paraíso entendida naquela época não era a de existência
inconsciente, mas de grande bênção e alegria na presença de Deus. Paulo não
diz: “Desejo partir e ficar inconsciente por um longo período de tempo”, mas
antes “desejo partir e estar com Cristo” (Fp 1.23). Ele certamente sabia que
Cristo não estava inconsciente, o Salvador adormecido, mas o Salvador que
estava vivo e reinando no céu. Estar com Cristo significava desfrutar a bênção
da comunhão da sua presença, e essa é a razão por que partir e estar com Cristo
era “muito melhor” (Fp 1.23). Assim, ele diz: “Temos, pois, confiança e
preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8).
c.
Devemos orar pelos mortos?
Finalmente,
o fato de que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus
significa que nós não devemos orar pelos mortos. Embora a oração pelos mortos
seja ensinada em 2Macabeus 12.42-45 (v. anteriormente), em lugar algum da
Escritura isso é ensinado.Além disso, não há indicação alguma de que essa tenha
sido a prática dos cristãos no tempo do NT, nem deveria ter sido. Uma vez que
os crentes morrem, entram na presença de Deus e ficam no estado de alegria
perfeita com ele. Que bom não ter de orar por eles nunca mais! A recompensa
celeste final será baseada em atos praticados nesta vida, como a Escritura
repetidamente testifica (1 Co 3.12-15; 2Co 5.10; ect.) . Ademais, a alma dos
descrentes que morrem vai para o lugar de punição e de eterna separação da
presença de Deus. Não seria bom orar por eles também, visto que o destino final
deles é estabelecido por seus pecados e por sua rebelião [Em outros dois usos
do NT, a palavra paraíso significa ”céu”. Em 2Coríntios 12.4 é o lugar ao qual
Paulo foi arrebatado em sua revelação do céu, e em Apocalipse 2.7 é o lugar
onde encontramos a árvore da vida.] contra Deus nesta vida. Orar pelos mortos,
portanto, é simplesmente orar por algo que Deus nos disse que já foi decidido.
Além disso, ensinar que devemos orar pelos mortos ou incentivar outros a fazer
isso seria encorajar a falsa esperança de que o destino das pessoas pode ser
mudado após a morte delas, algo que a Escritura não nos orienta a fazer em
lugar algum.
2. A
alma dos descrentes vai imediatamente para a punição eterna.
A
Escritura nunca nos encoraja a pensar que as pessoas terão outra oportunidade
de confiar em Cristo após a morte. De fato, trata-se exatamente do contrário. A
parábola de Jesus a respeito do rico e de Lázaro não dá esperança alguma de que
as pessoas possam passar do inferno para o céu após terem morrido. Embora o rico
no inferno tivesse gritado: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que
Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou
sofrendo muito neste fogo”, Abraão lhe respondeu: “entre vocês e nós há um
grande abismo, de forma que, os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou
do seu lado para o nosso, não conseguem”(Lc 16.24-26).
O livro de Hebreus associa a morte com
a conseqüência do julgamento em uma seqüência imediata: “Da mesma forma, como o
homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo” (Hb
9.27).
Além disso, a Escritura nunca apresenta o juízo final como dependente de
qualquer coisa feita após a nossa morte, mas dependendo somente do que
aconteceu nesta vida (Mt 25.31-46; Rm 2.5-10; cf. 2Co 5. 10) . Alguns
argumentam a favor de outra oportunidade para se crer no evangelho com base na
pregação de Cristo aos espíritos em prisão em 1 Pedro 3.18-20 e na pregação do
evangelho “a mortos” em 1 Pedro 4.6 , mas essas são interpretações inadequadas
dos versículos em questão e, numa análise mais precisa, não dão apoio a tal
pensamento.
Devemos
também perceber que a idéia de que haverá outra oportunidade de aceitar Cristo
após a morte é baseada na suposição de que cada pessoa merece uma oportunidade
para aceitar Cristo e que a punição eterna vem aos que conscientemente decidem
rejeitá-lo. Mas certamente essa idéia não tem o apoio da Escritura; todos nós
somos pecadores por natureza e escolha, e realmente ninguém merece nenhuma
graça de Deus nem nenhuma oportunidade de ouvir o evangelho de Cristo — que vêm
ao homem somente por causa do favor imerecido de Deus. A condenação vem não
somente por causa da rejeição deliberada de Cristo, mas também por causa dos
pecados que todos cometemos e da rebelião contra Deus que esses pecados
representam (v. Jo 3.18)
Embora
os descrentes passem para o estado de punição eterna imediatamente após a
morte, o corpo deles não será ressuscitado até o dia do juízo. Naquele dia, o
corpo de cada um será ressuscitado e reunido à alma, e comparecerão perante o
trono de Deus para o juízo final que vai ser pronunciado sobre eles, incluindo
o corpo (v. Mt 25.31-46; Jo 5.28,29; At 24.15; Ap 20.12,1 5) . Isso nos conduz
à consideração da ressurreição do corpo do crente, que é o passo final de sua
redenção.
D.
Glorificação
Como
foi mencionado anteriormente, Deus não deixará nosso corpo morto na sepultura
para sempre. Quando Cristo nos redimiu, ele não redimiu apenas nosso espírito
(ou alma) — ele nos redimiu como pessoas completas, e isso inclui a redenção de
nosso corpo. Portanto, a aplicação da obra redentora de Cristo a nós não será
completa até que nosso corpo seja inteiramente liberto dos efeitos da queda e
trazido ao estado de perfeição para o qual Deus o criou. De fato, a redenção de
nosso corpo ocorrerá somente quando Cristo retornar e ressuscitá-lo dentre os
mortos. Mas, no tempo presente, Paulo diz que esperamos pela “redenção do nosso
corpo” e então acrescenta: “Pois nessa esperança fomos salvos” (Rm 8.23,24). O
estágio da aplicação da redenção em que receberemos por fim o corpo
ressuscitado é chamado de glorificação. Referindo-se àquele dia futuro, Paulo
diz que participaremos da glória de Cristo (cf. Rm 8.17) . Além disso, quando
Paulo traça os passos na aplicação da redenção, o último que menciona é a
glorificação: “E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também
justificou; aos que justificou, também glorificou” (Rm 8.30).
Podemos
definir glorificação da seguinte maneira: A glorificação é o passo final na
aplicação da redenção. Ela acontecerá quando Cristo retornar e ressuscitar
dentre os mortos os corpos de todos os crentes de todas as épocas que morreram
e reuni-los às respectivas almas, e mudar os corpos de todos os crentes que
permanecerem vivos, dando assim a todos os crentes ao mesmo tempo um corpo
ressuscitado perfeito igual ao seu.
1.
Razão bíblica apresentada para a glorificação.
A
passagem mais importante do NT para a glorificação ou ressurreição do corpo é
lCoríntios 15.12-58. Paulo diz : [...] em Cristo todos serão vivificados . Mas
cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe
pertencem (v. 22,23). Paulo discute a natureza da ressurreição do corpo em
alguns detalhes nos versículos 35-50 , e a seguir conclui a passagem dizendo
que nem todos os cristãos morrerão, mas alguns que permanecerem vivos quando
Cristo retornar simplesmente terão seu corpo instantaneamente transformado em
um novo corpo ressurreto, que nunca irá envelhecer, enfraquecer ou morrer: “Eis
que eu lhes digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas todos seremos
transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última
trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós
seremos transformados” (lCo 15.51,52).
Posteriormente
Paulo explica em lTessalonicenses que a alma dos que morreram e foram estar com
Cristo voltará e se unirá ao corpo naquele dia, pois Cristo a trará consigo
:”Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará,
mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram” (lTs 4.14). Mas aqui Paulo
não somente afirma que Deus trará mediante Jesus os que morreram; ele também
afirma que “ os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (lTs 4.16). Assim,
esses crentes que morreram com Cristo também ressuscitarão para se encontrar
com ele (Paulo diz no v. 17 que “nós, os que estivermos vivos seremos
arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares”). Isso
somente faz sentido se diz respeito à alma dos crentes que partiram para a
presença de Cristo e que retornam com ele, e se é o corpo deles que é
ressuscitado dentre os mortos para ser reunido à sua alma e, então, ascender
para estar com ele.
2. Com
que se assemelhará o corpo ressurreto?
Se
Cristo vai ressuscitar o nosso corpo dentre os mortos quando retornar e se
nosso corpo será igual ao seu corpo ressurreto (1 Co 15.20,23,49; Fp 3.21),
então a que se assemelhará nosso corpo?
Usando
o exemplo de lançar a semente no solo e então aguardá-la crescer e se tornar
algo muito mais maravilhoso, Paulo passa a explicar em detalhes com o que nosso
corpo será parecido: “Assim será a ressurreição dos mortos. O corpo que é
semeado é perecível e ressuscita imperecível; é semeado em desonra e ressuscita
em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado um corpo
natural e ressuscita um corpo espiritual. [...] Assim como tivemos a imagem do
homem terreno, teremos também a imagem do homem celestial” (lCo 15.42-44,49).
Paulo
primeiro afirma que nosso corpo ressuscitado será “imperecível”. Isso significa
que ele não se desgastará nem envelhecerá, nem mesmo estará sujeito a qualquer
espécie de doença ou enfermidade. Ele será completamente sadio e forte para
sempre.Além disso, já que o processo gradual de envelhecimento é parte do
processo pelo qual nosso corpo está agora sujeito à pericibilidade, é
apropriado pensar que nosso corpo ressuscitado não apresentará qualquer sinal
de envelhecimento, antes terá as características da juventude mas ao mesmo
tempo de masculinidade ou feminilidade madura para sempre. Não haverá qualquer
evidência de doença ou dano, pois todos se tornarão perfeitos. Nosso corpo
ressuscitado evidenciará o cumprimento da sabedoria perfeita de Deus em nos
criar como seres humanos que são a coroa da sua criação e os portadores
apropriados de sua imagem e semelhança. No corpo ressuscitado claramente
veremos a humanidade como Deus pretendeu que fosse.
Paulo
também diz que nosso corpo será ressuscitado “em glória”. Quando esse termo é
contrastado com “desonra”, como é aqui, há uma insinuação da beleza ou da
atração que nosso corpo exercerá. Ele não mais será ”desonrável” ou desprovido
de atração, mas parecerá “glorioso” em sua beleza. Ele pode até possuir um
fulgor radiante em si mesmo (v. Dn 12.3; Mt 13.43).
Nosso
corpo também será ressuscitado “em poder” (lCo 15.43). Isso contrasta com a
“fraqueza” que vemos em nosso corpo agora. Nosso corpo ressurreto não será
somente livre das doenças e do envelhecimento, também receberá plenitude de
força e poder — não um poder infinito como o de Deus, naturalmente, e
provavelmente nada que se assemelhe a um poder “super-humano” no sentido dos
super-heróis da moderna literatura de ficção para crianças, por exemplo; mas
ele terá mesmo assim a força e o poder humanos de maneira completa e plena, a
força que Deus pretendeu que os seres humanos tivessem em seu corpo quando
originariamente os criou. Portanto, ele terá força suficiente para fazer tudo o
que desejarmos e que estiver de conformidade com a vontade de Deus.
Por
último, Paulo diz que o corpo ressuscitado é um “corpo espiritual” (lCo 15.44).
Nas cartas paulinas, a palavra “espiritual” (gr., pneumatikos) nunca significa
“não-físico”, e sim “consistente com o caráter e a atividade do Espírito Santo”
(v.,p.ex.,Rm 1.11; 7.14; lCo 2.13,15; 3.1; 14.37; Gl 6.1 [“vocês, que são
espirituais”]; Ef 5.19). Por isso, a expressão “corpo material” (encontrada em
algumas traduções) é inadequada, pois em contraste com “corpo espiritual”. 0
fato de o sinal dos cravos permanece nas mãos de Jesus é um caso especial para
nos fazer lembrar do preço que foi pago por nossa redenção, não deve ser
entendido que quaisquer marcas ou lesões permanecerão em nós, daria a entender
que “corpo espiritual” é um corpo não-físico, imaterial. Em vez de “corpo
material”, a tradução melhor seria “corpo natural”. A seguinte paráfrase é
esclarecedora: “É semeado um corpo natural [isto é, sujeito às características
e aos desejos desta era, dominado por sua vontade pecaminosa] e ressuscita um
corpo espiritual [isto é, integralmente sujeito à vontade do Espírito Santo e
suscetível à orientação dele] ”. Não se trata de um corpo “não-físico”, mas de
um corpo físico ressuscitado e elevado ao grau de perfeição que originariamente
Deus pretendeu que tivéssemos. Os exemplos repetidos em que Jesus demonstrou
aos discípulos que ele tinha um corpo físico que era capaz de ser tocado, que
possuía carne e OSSOS (Lc 24.39) e que poderia comer mostram que o corpo de Jesus,
que é modelo para o nosso, era claramente um corpo físico que havia se tornado
perfeito.
Para
concluir, quando Cristo retornar, ele nos dará novos corpos para que sejam
iguais ao seu corpo ressurreto: “... sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (lJo 3.2; essa afirmação
é verdadeira não somente no sentido ético, mas também em termos de nosso corpo
físico; cf. 1 Co 15.49; tb. Rm 8.29). Tal segurança proporciona a afirmação
clara de que a criação física de Deus é boa. Viveremos nos corpos que terão
todas as qualidades excelentes que Deus criou para que as tivéssemos e, assim,
para sempre seremos prova viva da sabedoria de Deus em fazer tudo na criação
material, desde o princípio, “muito bom” (Gn 1.31). Viveremos como crentes
ressuscitados no novo corpo,e ele será adequado para a nossa habitação nos
“novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2Pe 3.13).